As causas dos incêndios em Portugal

Os incêndios rurais em 2019 consumiram 41.992 hectares, tendo sido registadas 10.913 ocorrências.
Os fogos florestais têm causas várias, sendo a ação humana determinante na origem dos incêndios florestais. Para existir ignição tem que se atingir a temperatura de cerca de 180ºC, dificilmente esta temperatura é atingida de forma natural, com a exceção das faíscas provocadas pelas trovoadas.

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Francisco Correia en el centro de la imagen en el momento de anunciar la propuesta de Portugal como sede del próximo World Rangers Congress en 2022.

Na sua maioria os incêndios florestais devem-se a causas humanas, voluntárias ou negligentes. As causas negligenciais ou acidentais dos incêndios florestais devem-se a atos humanos, devido ao uso do fogo na pastorícia, na agricultura, bem como em práticas de caça.
As ocorrências por atos intencionais estão ligadas a interesses economicistas em torno de terrenos, ou pretensões de alteração do uso ou ocupação do solo, nomeadamente por parte de interesses imobiliários, de agricultores e proprietários florestais.

Alguns dos atos de fogo-posto são efetuados por divertimento, ou seja, porque dá gozo a quem pratica este ato criminoso, por vezes são perturbações motivadas por situações de isolamento ou solidão, ou pelo prazer que têm em verem os bombeiros e os meios aéreos de combate às chamas em atuação, muitos dos incendiários chegam mesmo a participar no combate às chamas.

As causas naturais ou físicas são provocadas exclusivamente por faíscas e relâmpagos que acompanham trovoadas secas e representam uma pequena percentagem do total das ocorrências anuais em Portugal.

A maioria dos incêndios florestais (88%) que ocorrem anualmente em Portugal, acabam por não ter causa determinada e este facto deve-se sobretudo à dificuldade de constituição de prova, esta situação poderá estar relacionada com a entrega dos processos de investigação à instituição policial militarizada que não tem ligação direta com a gestão florestal e que pouco conhece da realidade da floresta.

Portugal tem das maiores proporções de área de floresta na Europa. As florestas portuguesas representam 36% do território nacional, sendo reminiscentes das florestas autóctones ou resultantes de plantações.
Cerca de 85% da floresta portuguesa está em propriedade privada, apenas 3% pertence ao Estado, e os restantes 12% são baldios, pertencendo a comunidades locais.

Cerca de 220.000 hectares da floresta portuguesa estão sob gestão das indústrias de pasta de papel, por compra ou arrendamento.
Mais de um milhão de hectares são compostos por florestas constituídas por árvores de espécies autóctones, com árvores do género Quercus, típicas das zonas mediterrânicas. Entre estas, os sobreiros Quercus suber são a fonte de mais de metade da produção mundial de cortiça.

vigilantes-naturaleza-portugal-osboNa minha opinião as principais causas dos incêndios florestais em Portugal devem-se à má política de florestação, facilmente comprovada pela substituição das espécies naturais por espécies exóticas, principalmente por eucaliptos.
A teoria defendida pelo governo e pelas empresas de celulose de que a solução mais eficaz para o combate aos incêndios é o “fogo controlado”, mostrou ser completamente ineficaz, comprovado pelo que sucedeu com os trágicos incêndios na Austrália, país que utiliza esta técnica há muitos anos.

Em Portugal, a influência política que as celuloses continuam a exercer imobiliza a possibilidade de se travar a desertificação do nosso país. A escolha de uma pessoa que trabalha na maior empresa de celulose do país para controlar e desenvolver a política florestal é muito questionável.

Ao caminhar pelas serras e montes de Portugal, vemos um barril de pólvora, uma densidade arbórea multiplicada várias vezes e uma expansão invasiva de eucalipto até nos terrenos mais pobres e secos.

Já vivemos num novo clima em que os incêndios catastróficos muito dificilmente podem ser evitados, mas desistir não é a solução, temos que manter as florestas com espécies autóctones e criar condições para alterar a composição florestal dominada por espécies exóticas.
Temos que atuar urgentemente, o tempo escasseia, temos que viabilizar um futuro para o mundo rural. É preciso uma intervenção de grande dimensão em todo o território nacional, é necessário um investimento massivo que possibilite a criação de milhares de postos de trabalho para que se processe a reconversão das áreas hoje arborizadas com espécies exóticas, para reduzir o risco de incêndios catastróficos e travar a desertificação.

Nos últimos 4 anos, foram recrutados 100 elementos que reforçaram o Corpo Nacional de Vigilantes da Natureza que era constituído por 210 profissionais, mas esta incorporação não se deveu à necessidade que o governo sentiu de proteger a Natureza, mas sim devido ao não ter maioria de votos no parlamento e ter que efetuar acordos com os partidos de menor dimensão, para poder viabilizar as votações do orçamento de estado. Deve-se ao Partido Ecologista “Os Verdes” o ressurgimento de uma profissão que lentamente percorria o caminho para a extinção.

Neste momento vivemos numa nova legislatura e o governo já não necessita do apoio do Partido Ecologista “Os Verdes”, tendo recusado a sua proposta de reforço de mais elementos para o Corpo Nacional de Vigilantes da Natureza.
Não existe resposta à crise climática se estivermos de mão dada com o capitalismo extractivista que só procura oportunidades para fazer mais dinheiro.

A esperança é o último sentimento a morrer, todos juntos poderemos evitar o caminho da humanidade para o abismo!

Francisco Correia
Presidente da Associação de Guardas da Natureza e Vigilantes

 

Versión en español

Las causas de los incendios en Portugal

Los incendios forestales en 2019 quemaron 41.992 hectáreas, con 10.913 incendios registrados. Los incendios forestales tienen varias causas, siendo la acción humana determinante en el origen de los incendios forestales. Para encender, se debe alcanzar una temperatura de alrededor de 180ºC, esta temperatura apenas se alcanza de forma natural, con la excepción de las chispas causadas por tormentas eléctricas.

La mayoría de los incendios forestales se deben a causas humanas, voluntarias o negligentes. Las causas negligentes o accidentales de los incendios forestales se deben a los actos humanos, al uso del fuego en el pastoreo, la agricultura y las prácticas de caza.

Las ocurrencias por actos intencionales están vinculadas a intereses económicos en torno a la tierra, o pretensiones de cambiar el uso u ocupación de la tierra, es decir, por intereses inmobiliarios, de agricultores y propietarios de bosques.

Algunos de los incendios premeditados se llevan a cabo por diversión, es decir, porque da placer a quienes practican este acto criminal. En ocasiones, son disturbios motivados por situaciones de aislamiento o soledad, o por el placer que tienen al ver a los bomberos y los medios aéreos. lucha contra incendios, muchos de los incendiarios incluso participan en el combate contra los incendios.

Las causas naturales o físicas son debidas exclusivamente a chispas y rayos que acompañan a las tormentas secas y representan un pequeño porcentaje del total anual de incidencias en Portugal.

La mayoría de los incendios forestales (88%) que ocurren anualmente en Portugal no tienen establecida una causa determinada y este hecho se debe principalmente a la dificultad de proporcionar una evidencia, esta situación puede estar relacionada con la entrega de procesos de investigación a la institución policial militarizada que no tiene conexión directa con el manejo forestal y que sabe poco sobre la realidad del bosque.
Portugal tiene las mayores proporciones de superficie forestal en Europa. Los bosques portugueses representan el 36% del territorio nacional, fruto de los bosques nativoscy del resultado de plantaciones.

Alrededor del 85% del bosque portugués es de propiedad privada, solo el 3% pertenece al Estado y el 12% restante está vacante, perteneciente a las comunidades locales.
Aproximadamente 220.000 hectáreas del bosque portugués están bajo la gestión de las industrias de celulosa, mediante compra o arrendamiento.
Más de un millón de hectáreas están compuestas por bosques formados por árboles de especies nativas, con árboles del género Quercus, típicos de las áreas mediterráneas. Entre estos, los alcornoques de Quercus suber son la fuente de más de la mitad de la producción mundial de corcho.

En mi opinión, las principales causas de los incendios forestales en Portugal se deben a la mala política de forestación, lo que se demuestra fácilmente mediante la sustitución de especies naturales por especies exóticas, principalmente por eucaliptos.

La teoría defendida por el gobierno y las compañías de celulosa de que la solución más efectiva para combatir incendios es «fuego controlado», demostró ser completamente ineficaz, demostrado por lo que sucedió con los incendios trágicos en Australia, un país que ha utilizado esta técnica durante muchos años.

En Portugal, la influencia política que sigue ejerciendo la celulosa inmoviliza la posibilidad de detener la desertificación de nuestro país. La elección de una persona que trabaja para la compañía de celulosa más grande del país para controlar y desarrollar la política forestal es muy cuestionable.

Al caminar por las montañas y colinas de Portugal, vemos un barril de pólvora, una densidad de árboles multiplicada varias veces y una expansión invasiva de eucaliptos incluso en las tierras más pobres y secas.

Ya estamos viviendo en un nuevo clima en el que los incendios catastróficos difícilmente pueden prevenirse, pero abandonar no es la solución, tenemos que mantener los bosques con especies nativas y crear condiciones para cambiar la composición del bosque dominado por especies exóticas.

Tenemos que actuar con urgencia, el tiempo es escaso, tenemos que hacer posible un futuro para el mundo rural. Se requiere una intervención a gran escala en todo el territorio nacional, se necesita una inversión masiva para permitir la creación de miles de empleos para la conversión de áreas ahora boscosas con especies exóticas, para reducir el riesgo de incendios catastróficos y detener la desertificación.

En los últimos 4 años, se reclutaron 100 miembros para reforzar el Cuerpo Nacional de Observadores de la Naturaleza, que consistía en 210 profesionales, pero esta incorporación no se debió a la necesidad que el gobierno sentía de proteger la Naturaleza, sino a la falta de mayoría en el parlamento y tener que llegar a acuerdos con partidos más pequeños para que los votos del presupuesto estatal salgan aprobados. El Partido Ecológico «Os Verdes» debe su resurgimiento a una profesión que lentamente recorrió el camino de la extinción.

En este momento estamos en una nueva legislatura y el gobierno ya no necesita el apoyo del Partido Ecológico «Os Verdes», ya que rechazó su propuesta de reforzar más elementos para el Cuerpo Nacional de Observadores de la Naturaleza.

No hay respuesta a la crisis climática si vamos de la mano con el capitalismo extractivista que solo busca oportunidades para ganar más dinero.
La esperanza es el último sentimiento de muerte, ¡todos juntos podemos evitar el camino de la humanidad hacia el abismo!